Pular para o conteúdo principal

Mensagem do Dia 21 de junho de 2010.

Perfume de violetas


O crepúsculo morria no horizonte, mas transportava aos céus a prece diária de dona Irene.
Naquele dia, porém, apesar da grande saudade, não chorava; aprendera a transformar as lágrimas em preces e sentia como se vozes segredassem ao seu coração o conforto divino. Mais uma vez, ela recordava na hora do crepúsculo...
Casara-se por amor. Uma afeição profunda, que apenas durara cinco anos, pois o marido morrera na guerra. Depois desse golpe, só a pequenina e loura Lucy representava o pulsar do seu coração.
Os dias passavam, os meses e os anos. Dona Irene e a filhinha viviam tranqüilas, mas saudosas da imagem daquele que as deixara tão cedo.
O retrato do pai estava sempre florido com as pequeninas violetas, que a própria Lucy colhia no seu jardim. Parecia um querubim louro, ajoelhada em volta dos canteiros à procura das violetas, sempre escondidas... Mas, o perfume as denunciava. Entretanto, dona Irene só teve esse quadro durante dois anos; a filhinha foi para o jardim dos céus. E, no momento em que cerrava os olhinhos azuis, ainda pediu meigamente:
- Mãezinha, eu quero levar as violetas para o papai...
Dona Irene, embora sentindo o coração estraçalhado, colocou nas mãozinhas de Lucy o derradeiro ramalhete de violetas.
Depois, ela ficou na saudade, envolta no perfume das mimosas flores.
As estrelas, agora, cobrem o céu, antes azul e a tranqüilidade envolve o coração de dona Irene, que murmura fitando o manto estrelado:
- Jesus, por que levou meu querubim, tão cedo?
O suave perfume das violetas invadiu todo o jardim e uma pequenina estrela cruzou o infinito. Um calafrio passou por todo o ser extasiado da jovem senhora. E, agora, os soluços de uma criança chegaram aos seus ouvidos.
Agarradinha ao portão de entrada, estava uma criança. Dona Irene passou as mãos pela fronte, sentindo-se confusa; no entanto, erguendo-se, abriu o portão. A criança transpôs a entrada e continuou soluçando.
Dona Irene, erguendo a mão lentamente, passou-a suave por aquela cabecinha, contemplando os cabelos negros alvoroçados, olhos castanhos e um rostinho marejado de lágrimas e pezinhos no chão...
Passado o choque emotivo, a jovem senhora, carinhosa, indaga:
- Por que chora, meu bem?
Dois olhos inocentes se ergueram, um sorriso nasceu nos lábios trêmulos, enquanto duas lágrimas deslizavam levemente. Uma voz infantil ressoou, medrosa:
- Minha mãezinha acaba de morrer... Eu moro no barracão da estrada... E, antes de morrer, ela disse que viesse pedir à senhora que olhasse por mim. Eu tenho seis anos, estou sozinha e o meu nome é Lucy...
Dona Irene caiu de joelhos diante da menina, lembrando-se de sua amada filhinha; emocionada, segurou o rostinho assustado entre as mãos trêmulas e cobrindo-a de beijos. Elevou aos céus os olhos, exclamando:- Obrigada, Meu Deus!
E foi então que, novamente, a estrelinha cintilou no céu, formando um raio de luz.
Tomando a. menina pela mãozinha, dirigiu-se ao humilde barracão da estrada. E fez tudo por aquele corpo que, ali, repousava. Numa prece fervorosa procurou iluminar-lhe a estrada para o infinito, enquanto na terra lhe cobria o corpo de violetas...
Depois, a morena Lucy passou a chamá-la de "mãezinha" e, juntas, cuidavam das flores.
Todas as tardes oravam na hora do crepúsculo pelos entes queridos, enquanto, pelo ar, o perfume suave das violetas se misturava à pureza daquelas preces.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Novo ciclo

Um ciclo fechou e o outro se abre. É hora de ver as falhas, e varrer da sua vida, tudo o que te faz mal. Espírito de mudança, essa é a palavra. Abrir a janela no início do dia, contemplar o sol e agradecer a Deus por mais uma oportunidade que ele está lhe dando para tentar mais uma vez ser feliz. Viver a vida com mais felicidade, e contar com aquelas pessoas que você sabe que estarão com você independente do porque, independente do motivo do seu choro. Passar a viver com mais desconfiança. Não acreditar em tudo o que dizem, mas também não deixar de acreditar que pode dar certo! Dias de chuva, sempre vão vir, pra você e pra todo mundo. Mas aproveite essa chuva pra lavar toda a sujeira, e no fim, aguarde o belo arco-íris que irá sair. Olhe para você e cuide de você. Você sabe o quanto pode fazer alguém feliz, então se não der certo, quem perdeu não foi você. Acorde pra vida..  

Não olhe para os problemas

Era uma vez um cocheiro que dirigia uma carroça cheia de abóboras. A cada solavanco da carroça, ele olhava para trás e via que as abóboras estavam todas desarrumadas. Então ele parava, descia e colocava-as novamente no lugar. Mal reiniciava sua viagem, lá vinha outro solavanco e... tudo se desarrumava de novo. Então ele começou a ficar desanimado e pensou: - Jamais vou conseguir terminar minha viagem! É impossível dirigir nesta estrada de terra, conservando as abóboras arrumadas! Quando estava assim pensando, passou à sua frente outra carroça cheia de abóboras, e ele observou que o cocheiro seguia em frente e nem olhava para trás: as abóboras que estavam desarrumadas organizavam-se sozinhas no próximo solavanco. Foi quando ele compreendeu que, se colocasse a carroça em movimento na direção do local onde queria chegar, os próprios solavancos da carroça fariam com que as abóboras se acomodassem em seus devidos lugares. Assim também é a nossa vida: quando paramos demais p...